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Nova minissérie da Apple+ surpreende em retratar a beleza do cotidiano pré-histórico.

Em dez longos anos de produção, alguns conceitos já nascem desatualizados em “Planeta Pré-Histórico”. Ainda assim, é o melhor documentário já produzido sobre dinossauros na história. Outra referência no meio, “Caminhando Com Dinossauros”, foi produzido em 1999 pela BBC. O filme trabalha os dinossauros e suas eras, de uma forma nunca vista antes, exaltando a naturalidade da vida animal e sua exuberância por si só. A Apple+ nos lembra que os ecossistemas terrestres e marinhos já estavam interligados quando os dinossauros passaram por aqui. Enquanto observamos criaturas voadoras, as marinhas dançam na água e as terrestres correm na costa. A divisão de biomas só abre mais caminho para os episódios.





“Planeta Pré Histórico”, com narração de David Attenborough, aborda o tema como uma história de ocupação da Terra. E cada elemento é milimetricamente produzido para a imersão completa do telespectador. Criados pela Moving Picture Company, os especialistas em efeitos especiais conhecidos no cinema por O Rei Leão, Homem-Aranha: Sem Volta Pra Casa e Blade Runner 2049, os animais estão reais. Seus movimentos, olhares, sons... Toda a composição dos dinossauros como seres vivos fazem do documentário uma obra prima do gênero. A realismo misturado com a exuberância do que se vê em cena é de tirar o folego.




A primeira cena de “Planeta Pré-Histórico” mostra detalhes de um Tiranossauro Rex numa representação incrível, fazendo uma espécie de travessia com seus filhotes em ambiente costeiro marinho. A forma clássica de representação da relação pai e filho na espécie não é de cuidado, outra retratação que a minissérie faz, já que os T-rex foram bons pais. Ao longo dos próximos episódios, mais espécies são ampliadas em tela como os Mosassauros, os gigantes marinhos. A série reproduz uma dinâmica de safari entre o espectador e os dinossauros e conduz o olhar para o cotidiano simples de um animal em seu habitat natural. Dito isso, a “Costa” é um bom ponto de partida para o resto da série, desde as luzes mágicas da bioluminescência que precede o acasalamento das criaturas ao contraponto que até então nosso contato mais objetivo com esses animais fosse por seus crânios inanimados, assustadores esqueletos gigantes violentamente fossilizados.




Adam Valdez e Andrew R. Jones fazem da minissérie, uma obra focada em várias figuras e pequenos trechos das suas jornadas na Terra. Se por um lado, isso limita o potencial dramático do filme – a normalidade com que os animais encaram suas vidas, desafios pela sobrevivência e convivência com predadores em pouco tempo de tela -, por outro, isso funciona perfeitamente para um dos objetivos da série: ressaltar como os dinossauros foram desfigurados como animais comuns e retratados apenas como feras mortíferas pela cultura pop. Ainda assim, o excesso de tempo dedicado ao vazio tedioso do dia, sem se importar ou imaginar os eventos de extinção que um dia surgiram no caminho nos fazem contemplar também nossa existência e brevidade da passagem humana por aqui.




O final traz a sensação de triunfo. Em um mundo ideal, Planeta Pré-histórico será a primeira de muitas produções desse tipo. Não digo em sequências intermináveis, mas sim, em formas mais naturais de retratar o passado da Terra. A minissérie tem o poder de nos deixar com mais perguntas do que respostas sobre a história que até então nos foi contada sobre a formação do universo, do planeta e dos que viveram aqui antes de nós. O projeto não é e não tenta ser a palavra final sobre a paleontologia, serve como convite ao estudo.

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